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segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Figuras arquetípicas no filme "A pele que habito"


A Pele que Habito (La Piel que Habito) é um drama espanhol, lançado em 2011. Sob a direção de Pedro Almodóvar, traz como protagonistas Antonio Banderas e Elena Anaya.
O roteiro é baseado no romance Mygale (1995) (publicado posteriormente sob o título Tarántula (2005), de autoria do escritor francês Thierry Jonquet.
O filme mostra o cirurgião plástico Robert, buscando recriar em laboratório uma pele artificial, idêntica a humana. É uma busca obsessiva que têm início quando sua esposa, Gal, sofre queimaduras em todo o corpo, quando tenta fugir com o irmão de Robert, Zeca.
A filha de Robert sofre um abuso sexual e comete suicídio. O médico então aprisiona o jovem Vicente, que abusou de sua filha e o transforma em cobaia na tentativa de recriar Gal.

O filme é uma obra de Almodóvar, então já é possível esperar temas polêmicos, como La Mala Educacion e La ley del deseo. O filme mostra a obsessão de um homem movido pela vingança, que é capaz de ultrapassar qualquer limite ético.

O filme traz muitos temas interessantes para abordarmos, mas o que eu gostaria de trazer aqui é sobre os arquétipos que enxergamos no filme.



Carl Gustav Jung foi um dos mais importantes discípulos de Freud. Jung foi essencial para a divulgação da Psicanálise, porém as divergências de ideias ocasionou no rompimento entre os dois.

Jung identificou diversas relações entre ideias que das quais seus pacientes não podiam ter conhecimento prévio, nem por ter ouvido ou lido a respeito. Em suas pesquisas, ele encontrou paralelos entre as tramas e os símbolos dos sonhos de todo tipo de pessoas.

Assim, Jung trouxe a ideia  de Inconsciente Coletivo e também estruturou um formato da personalidade humana, que era formado por Arquétipos. Arquétipos são formas vazias, herdadas, que ao longo da vida seriam preenchidas pela vivência de cada indivíduo. 

O Arquétipo possui características bipolar, ou seja, possui um aspecto luminoso, positivo, de movimento ascendente e para a progressão e um outro aspecto negativo, sombrio, orientado para a regressão. O arquétipo em si é neutro e sua ativação como positivo ou negativo irá depender de fatores pessoais do consciente individual.

Quando o arquétipo se manifesta, denominamos de Figuras Arquetípicas. Por exemplo, todo indivíduo herda o arquétipo materno, a figura de mãe experimentada por todos os seres humanos. No aspecto positivo, teremos a Mãe Boa, que dá a luz, alimenta, cuida, é carinhosa, etc. No aspecto negativo, teremos a Mãe Bruxa, que é assustadora, negligente e gera a morte.

No filme "A pele que habito", podemos encontrar a figura arquetípica da mãe bruxa em Marília, que abandonou (negligenciou) o cuidado aos filhos e possui um instinto destrutivo. A própria Marília diz em um determinado momento do filme que "carrega a loucura em seu ventre".


Já Robert é um médico cirurgião excepcional e ao mesmo tempo louco e vingativo. É possível identificar que o personagem de Antonio Banderas busca destruir o próprio irmão (fratricídio), utiliza a mãe como criada e é capaz de ultrapassar vários limites éticos profissionais para vingar-se. Poderíamos enxergar como a figura do médico e o monstro, onde o bem e o mal coexistem dentro do indivíduo. O pai protetor e o médico louco.

 E se pensarmos o arquétipo da Sombra, onde estão os nossos desejos imorais, violentos, animalescos e primitivos, conseguimos enxergar que cada personagem possui o seu lado sombrio.

Zeca, apesar de ser o filho abandonado, possui o aspecto sombrio do estuprador, assassino e violento. Marília, é a mãe com aspectos sombrios destrutivos e que gerou a loucura dos filhos. Vicente, antes de se tornar a cobaia de Robert, como aspecto sombrio trazia um instinto violento e abusador. Robert, se mostrou violento, assassino, louco, capaz de qualquer coisa em nome da vingança, que podemos enxergar como seu aspecto sombrio.

Isso é apenas um olhar pessoal e superficial sobre a teoria que é muito mais densa e complexa de um filme.

Mas se quiser conhecer mais sobre isso, leia o livro "Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo" de Carl Gustav Jung.

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